25 de mai. de 2009

Dietas: controle, cetogênica, high fat e com restrição calórica

E mais uma vez, a "questão dieta" volta á tona, ao menos no meio de discussão científica de Tópicos. Dessa vez, o foco foi a resposta - basicamente em termo de pesos - dos corpos dos ratinhos a diferentes propostas nutricionais variando em composição calórica e calorias totais.
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Começa-se divindido-se grupos: 32 ratinhos foram separados em 4 grupos, sendo os estudos continuados por 8 semanas. A questão central era que cada um dos quatro grupos contava com uma dieta própria: uma controle, uma altamente gordurosa ("high fat"), uma cetogênica e outra com restrição de calorias. A dieta controle alimentava os ratos com uma quantidade calórica padrão, sendo as outras que variavam: a high fat e a cetogênica, na composição da dieta; a restrita, na quantidade de calorias, que se limitiva a 66% da dieta controle.

A dieta high fat e cetogênica merecem, por elas mesmas, mais comentários. Ambas contam como traço marcante a relação alterado de um grupo de alimentos em relação a outros: no caso da cetogênica, chama a atenção a quantidade reduzidíssima de carboidratos; no caso da high fat, a alta porcentagem de gorduras no total de alimentos ingeridos, sendo as gorduras por excelência os alimentos com maior teor energético.

Quem lê, logo que se lembra (otimismo de escritor, é claro) da dieta Atkins: poucos carboidratos levando a um estado de formação de corpos cetônicos no organismo, pelos baixos níveis sanguíneos de glicose e condensação de acetil-Coa nessas formas moleculares cetônicas de exportação de energia para órgãos altamente dependentes de metabolismo aeróbico. Há semelhanças; contudo, também há as diferenças. No caso da dieta cetogênica, o intuito da dieta é justamente a formação de corpos cetônicos, enquanto que, na dieta Atkins, a formação destes é mais consequência do que objetivo.

Os resultados das medidas corporais são avaliados: surpresa inicial, seguida de reflexão. Três das dietas do estudo contavam com a mesma quantidade calórica: contudo, a controle permaneceu com peso constante, a high fat engordou e a cetogênica emagreceu. Avaliando-se os resultados, contatou-se que a dieta cetogênica havia emagrecido tanto quanto a de restrição calórica! Ambas haviam perdido cerca de 20% de sua massa inicial, a custo de uma redução de 1/3 nas calorias ingeridas ou na redução brutal do nível de carboidratos ingerido (de cerca de 50% para aproximadamente 0.7%). O que resta responder é a pergunta: por quê?
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Um exame realizado no experimento pode ajudar com a resposta: a medição - indireta- do calor corporal dissipado pelos animais. Os exames permitiram chegar á conclusão de que o metabolismo nos cetogênicos estava aumentado em mais de 12%. A medida foi indireta porque não se mediu quanto de energia térmica foi efetivamente gerada: mediu-se, na verdade, os níveis de consumo de Oxigênio e produção de Gás Carbônico, calculando-se a energia liberada pelo total de O2 "queimado". Vale a pena ressaltar, contudo, que a medida de calor por si só não é perfeita. Energia térmica, no organismo, pode ser geradas por diversas vias além da metabólica comum, existindo como exemplo o processo de geração de energia pela gordura marrom e o de desaclopamento de parte da cadeia respiratória, usando-se termogeninas para produzir calor a partir do gradiente trasmembrânico de prótons na mitocôndria (gradiente esse que, normalmente, é desviado para a junção de ADP+P pela ATPsintase).

A outra questão importantíssima do artigo é a questão do que foi alterado na composição do animal para haver a mudança de peso. Verificou-se que somente os animais high fat haviam ganhado massa gorda - até aí, tudo ok. A questão é que, dos outros que haviam emagrecido, todos ficaram com a massa gorda inalterada. A mudança de peso que houve nos ratinhos de dieta cetogênica e restrita foi por diminuição de massa magra: nem uma grama de gordura desses animais foi perdida. Basicamente, do ponto de vista Bioquímica, o que pode se notar nessa questão foi a permissividade que os níveis elevados de carboidrato trouxeram para o anabolismo: a grande liberação de insulina permitiu a ativação (fosforilação) de enzimas sistetizadoras de lipídeos, que ao encontrar substrato suficiente para sua função, terminaram por aumentar a massa gorda dos animais. Nos outros dois casos, ou não havia glicose o suficiente para se ter uma relação insulina/glucagon propícia ao anabolismo, ou não havia nutrientes em coeficientes suficientes para se ter um efeito expressivo.

Observa-se, assim, que, no organismo, a questão não é tão simples quanto "x calorias trazendo o mesmo efeito de x calorias". O modo como essa energia é transportada para o corpo, e a interação desses dois componentes, é fundamental.
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Estêvão Cubas

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